Sobre o Mercado de Trabalho para jovens profissionais


Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz Arquitetos

Acreditamos que o mercado de trabalho no Brasil para arquitetura é um tanto quanto selvagem. Se por um lado os arquitetos são mal pagos, têm pouco apoio governamental e falta muita estruturação e organização para nós como classe, por outro lado há poucos lugares melhores para iniciar a carreira profissional.
Há muito, muito a se construir no Brasil, e há um mercado extenso e inexplorado para arquitetos. A possibilidade de ainda jovem conseguir clientes e obras de vulto razoável é muito maior aqui do que na Europa ou nos EUA, embora profissionalmente sejamos mal remunerados, pouco valorizados em todo o processo e a estabilidade profissional é baixíssima. Claro que incomoda muito a falta de tecnologia, industrialização, a falta de seriedade com que a necessidade de um bom projeto é encarada. Mas o mercado está aí e pode ser desbravado por jovens arquitetos, com mais facilidade do que na maioria dos países, ainda que de um modo mais aventureiro.
Maior apoio governamental, promovendo maior quantidade de concursos e reservando determinados projetos para jovens arquitetos, como acontece em alguns países da Europa, seria muito bem vindo para a arquitetura brasileira.
Sobre Sustentabilidade
Atualmente a palavra sustentabilidade está em voga, em alta, mas o que se encontra, na maioria dos casos, são projetos tradicionais onde uma porção de “gadgets” ou recursos são aplicados posteriormente à concepção projetual para se resolver algumas questões relacionadas a sustentabilidade.
Acreditamos que a sustentabilidade deve surgir com o ato de projetar, ser levada em conta num primeiro momento, assim como o programa, legislação, estrutura, partido, orçamento e tantas outras variáveis. Uma boa arquitetura deverá ser e nascer sustentável em maior ou menor grau. Não acreditamos que sustentabilidade deva ser o partido arquitetônico, o mote de todos os projetos, ainda que o possa ser, mas que seja sempre considerada desde o princípio, como uma das premissas de projeto."

O Direito ao Palavrão

Luís Fernando Veríssimo

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não" o substituem.

O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida.
Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.

Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! . O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepne", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o- pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o- pariu!" dito assim e coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cú!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cú!".
Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cú!".
Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que um a vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto- defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda- se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!. Grosseiro, mas profundo...
Pois se a língua é viva, inculta, bela e mal-criada, nem o Prof. Pasquale explicaria melhor. "Nem fodendo..."